Artigo Opinião: “Desapego ao nome”
Por: Adelmo Pinho
Quem é você? Você seria quem é, se não tivesse nome? O nome pode ser considerado um rótulo? O nome é um dos atributos da pessoa, a partir do nascimento com vida. Antes, na gestação, oficialmente, não se tem um nome, porque o ser humano ainda está em formação, nascituro e inominado.
O nome é uma das formas de identificação de uma pessoa. Na época de Jesus Cristo, não existiam sobrenomes; para se referir a alguém, fazia-se alusão à cidade onde a pessoa havia nascido ou quem era seu pai.
Jesus, era conhecido como “Jesus de Nazaré”, porque Nazaré era a cidade de origem de seus pais, José e Maria. Já a denominação, “Cristo”, possui relação com a santidade de Jesus. Deus em Hebraico, no Judaísmo, tem o nome de “Jeová”, e no Islamismo, “Alá”. O nome do líder do Budismo, “Buda”, era Sidarta Gautama, um príncipe.
O nome, assim, pode identificar uma pessoa ou mesmo uma entidade. No Catolicismo, a depender de certas regras, o homem ou mulher consagrados mudam de nome (como os Papas), renunciando, inclusive, a bens materiais, simbolizando que assumiram uma vida nova de fé e renovação, como fez São Francisco de Assis.
Por óbvio, para viver em sociedade com bilhões de pessoas, o ser humano hodierno precisa de ter nome e sobrenome, para ser identificado. Todavia, reflexionemos: o nome não pode ser mais importante, do que a pessoa que o detém!
Os personagens Romeu e Julieta, no romance com o mesmo nome, de Willian Shakespeare, por amor, renegaram seus patronímicos nessa tragédia, porque geravam rivalidade e ódio entre as famílias rivais. Esse desapego ao sobrenome por Romeu e Julieta, fez a diferença na trama, trazendo paz e o fim da polarização familiar – apesar do suicídio de ambos na trágica história.
O nome, de certo modo, não deixa de ser um rótulo. Por isso, não é necessário ter apego a nomes – ainda que precisemos de um. Quantas vezes se invoca o nome de Deus, divorciado da fé, com finalidade meramente comercial ou política?
Em 26 de janeiro deste ano (2023), o cantor “Seu Jorge” e a terapeuta Karina Barbieri, sua namorada, registraram o filho do casal com o nome “Samba” (o nome foi recusado pelo cartório para o registro, mas depois aceito através do Poder Judiciário).
E daí? Enfim, sob uma visão holística ou espiritualista, qualquer que seja o seu nome, o importante é ser quem você realmente é, em plenitude, buscando em si a verdadeira essência.
Por: Adelmo Pinho, promotor de justiça do Estado de São Paulo.
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