Santa Casa de Araçatuba retoma cirurgias no hospital
Iniciado em julho pela diretoria executiva, o projeto já operou 70 pacientes e está realizando pré-cirúrgico com 218 pacientes de ortopedia, especialidade com maior demanda; no total, fila tem 1.734 laudos (fotos divulgação)
Da redação Diego Alves
Um total de 70 pacientes que aguardavam desde 2018 por artroplastias de joelho e de quadril foram operados e outros 218 pacientes que entraram na fila de espera a partir de 2021 já estão com consultas agendadas para encaminhamento a exames pré-operatórios e avaliação anestésica para serem operados entre fevereiro e março do ano que vem. Este é o primeiro balanço do projeto “Retomada de Cirurgias Eletivas” implantado em meados do mês de julho pela diretoria executiva da Santa Casa de Araçatuba. O objetivo é tirar da fila pacientes que aguardam cirurgias de várias especialidades de alta complexidade, alguns dos quais desde 2015.

Em quatro meses, a força-tarefa reduziu em 30% o total de 906 pacientes com laudos expedidos para realização de artroplastia de quadril ou de joelho, cirurgia ortopédica que substitui articulações desgastadas do quadril ou do fêmur por artrite, osteonecrose ou envelhecimento no caso do quadril, ou do fêmur, tíbia e, às vezes, da patela, no caso do joelho, por componentes metálicos e plásticos com o objetivo de aliviar a dor, restaurar a função e melhorar a qualidade de vida.
O balanço foi apresentado na semana passada pelo provedor do hospital, Dr. Éverton Santos, que reuniu representantes da força-tarefa criada para a execução do projeto. O grupo envolve praticamente todos os setores do hospital e tem como função dar suporte à logística necessária à realização das cirurgias eletivas. Composta por colaboradores administrativos e especializados em atividades multidisciplinares, a equipe tem funções específicas numa estrutura que envolve desde a atualização do cadastro dos pacientes da fila de espera à alta hospitalar, sob uma estratégia que tem como diretriz a racionalização do processo de retomada das cirurgias eletivas em quantidade e velocidade suportáveis à estrutura do hospital sem comprometer os fluxos da assistência aos internados e acolhimento das urgências e emergências e sem sobrecarregar os recursos humanos.
Referência de alta complexidade para 40 municípios da região, a Santa Casa de Araçatuba tem 1.734 laudos cirúrgicos encaminhados pelas secretarias de Saúde da região referenciada entre meados de 2018 e março de 2025. Desse total, 1.018 são para Ortopedia – 906 para artroplastias e 112 para outros procedimentos, como reconstrução de tendão, e 716 pacientes para procedimentos de neurocirurgia, cirurgia cardíaca e torácica, cirurgia geral, cirurgia vascular e cirurgia pediátrica. As cirurgias cardíacas também fazem parte da primeira etapa da retomada das eletivas. Em quatro meses, a equipe cirúrgica zerou a espera para implantação de 93 marca-passos e a de 49 pacientes que aguardavam por cirurgias de revascularização e implantes de prótese aórtica.
O represamento das cirurgias eletivas decorreu de eventos pontuais como a pandemia do coronavírus, que causou a suspensão das cirurgias eletivas no período de março de 2020 a fevereiro de 2022. Questões como indefinição de incentivos do SUS para retomada no pós-pandemia e questões estruturais específicas da Santa Casa de Araçatuba, como a ocupação dos leitos de UTI e enfermaria para atendimento de urgência e emergência, que representam 90% dos atendimentos, e a falta de recursos financeiros para garantir insumos cirúrgicos e pagamento de serviços médicos foram outros fatores que impediram a retomada plena após a pandemia e incluíram novos integrantes na fila de espera.

Nesta primeira etapa, os esforços estão concentrados na fila de pacientes à espera de cirurgias de ortopedia, especialidade que registra a maior demanda. São 325 pacientes para artroplastia de quadril – o primeiro laudo é de 2015 – e 469 laudos para artroplastia de joelho – o primeiro em 2016. A especialidade ainda tem 112 para procedimentos diversos, como reconstrução de tendão, com os primeiros laudos expedidos em 2015. A longevidade dessa fila foi determinante para a definição do alvo da retomada das eletivas na Santa Casa de Araçatuba. “Em uma das reuniões sobre a regionalização da Saúde, foi apresentada a importância da retomada dessas cirurgias pela Santa Casa de Araçatuba, e o DRS (Departamento Regional de Saúde) estabeleceu como meta regional quadril e joelho”, afirma o provedor dr. Éverton ao explicar por que a estrutura do hospital está prioritariamente voltada a artroplastias. “Nós nos comprometemos enquanto hospital a fazer isso, a retomar as eletivas tendo como enfoque especial quadril e joelho. Foi uma decisão financeiramente e do ponto de vista logístico difícil, mas quando assumimos o hospital, dissemos que não tínhamos medo de tomar decisões difíceis e fomos em busca de fazer acontecer e está acontecendo”, afirma ao citar durante a reunião os desafios que o hospital está precisando vencer para realizar as eletivas.
Qualificação da Fila
Atualizar o cadastro dos pacientes que estavam há mais tempo na fila de espera foi o primeiro desafio enfrentado pelo projeto de retomada das cirurgias eletivas. A qualificação obedece rigorosamente a ordem de chegada dos pacientes na fila de espera. Até a semana passada, 300 pacientes haviam sido contactados pela equipe encarregada de qualificação de mais de 1.700 laudos, alguns dos quais datados de 2012. Decorridos mais de 10 anos, alguns pacientes já haviam realizado o procedimento por outras vias e muitos não foram encontrados para o início dos processos pré-operatórios.
“Alguns faleceram por causas diversas, mas a grande maioria dos contatos não consolidados ocorreu porque o número do telefone que consta no laudo não pertence mais àquela pessoa ou constou como inexistente na chamada”, informa Marcelise Muniz, que coordena o segmento Qualificação de Fila do projeto. O trabalho desse setor esgota todas as possibilidades para localização desses pacientes. “Os casos que não conseguimos o contato por telefone foram encaminhados às secretarias municipais de Saúde para que os agentes comunitários façam a checagem no endereço constante no laudo para atualização do contato. “Os pacientes encontrados por essa busca serão realocados na agenda de pré-operatório”, informa a coordenadora.
A fase pré-operatória dura em média 50 dias, período necessário à realização de consulta pelo especialista e dos exames necessários para atualização da situação que originou o laudo cirúrgico, retorno ao médico para avaliação dos resultados e encaminhamento ao anestesiologista para avaliação pré-cirúrgica. Cumpridas essas etapas, a cirurgia é agendada.
Vagas
Para conseguir em quatro meses reduzir em 30% a fila de cirurgias de quadril e joelho, que representam média de 17 eletivas de ortopedia/mês, foi necessário vencer dificuldades que travaram iniciativas anteriores. “Evitar o comprometimento da estrutura já impactada pela superlotação diária e não sobrecarregar os fluxos assistenciais é um dos desafios” afirmou o provedor dr. Éverton ao falar sobre as estratégias necessárias à retomada.
A reserva de sala cirúrgica com horário de utilização exclusivo para a equipe de ortopedia foi determinante para a realização de média de cinco artroplastias por semana. Garantir leitos de UTI e de enfermaria e/ou de ambos para os pacientes operados é outro entrave característico de uma estrutura hospitalar sobrecarregada como ocorre na Santa Casa de Araçatuba.
O gerenciamento do Núcleo de Regulação Interna (NIR) tem sido determinante para que as vagas para eletivas sejam provisionadas em uma das etapas do pré-operatório. “Após a avaliação anestésica, é possível saber se no pós-cirúrgico o paciente vai precisar de vaga de UTI ou de enfermaria. Com isso, conseguimos reservar a vaga sem comprometer as demandas da Urgência e Emergência”, informa o coordenador do NIR, dr. Filipe Fornari. As internações duram entre três e quatro dias. “Caso o paciente seja de outra cidade e vá precisar de mais tempo, acionamos a Secretaria de Saúde do município ou o DRS para que o restante da internação seja realizado no hospital do município de origem”, explica Fornari.

Recursos financeiros
Garantir os materiais cirúrgicos e medicamentos necessários a procedimentos que demandam
R$ 4.499.47e 5.756,01 somente para cada prótese de joelho e de quadril tem sido um desafio constante. Para ultrapassar barreiras como o histórico déficit financeiro mensal e os pontuais, como a recuperação judicial em vigor, processo que mantém congelados débitos inclusive com fornecedores desses insumos, a diretoria executiva precisou usar da credibilidade que conseguiu gerar junto ao mercado e à comunidade pelo estilo de gestão.
“Fomos buscar dentre os fornecedores, parceiros estratégicos que, mesmo com pendências financeiras a serem resolvidas pelo hospital, entenderam a importância da retomada das cirurgias e os resultados que esse processo vai gerar para as finanças do hospital”, explica Fabiano Ferreira de Paula, superintendente da Santa Casa de Araçatuba, ao informar de que forma o hospital conseguiu os insumos para as cirurgias já realizadas e como provisiona os procedimentos futuros. “Olho no olho, negociamos os pagamentos nos prazos em que o hospital receberá pela produção dessas cirurgias”, detalhou o superintendente.
Para o provedor da Santa Casa de Araçatuba, a retomada das cirurgias eletivas, ao mesmo tempo que oferece ao hospital oportunidade de exercitar sua vocação, que é a alta complexidade, também emite sinais atrativos aos fornecedores. “O processo possibilita o planejamento da quantidade de cirurgias que faremos por mês e projetar faturamento futuro. Consegue-se fazer uma previsibilidade maior e trabalhar com algo que ao longo dos anos o hospital não teve possibilidade: ter um orçamento, fazer provisão para pagar as despesas decorrentes e recorrentes”, exemplifica dr. Éverton ao afirmar que “a meta de nossa diretoria e desejo do nosso coração é ter uma provisão fixa para pagar salários, médicos, férias, décimo terceiro, etc.”
Repercussão
A negociação realizada para garantir as cirurgias ortopédicas e o volume de cirurgias eletivas previstas no processo de retomada para zerar a fila atual e atender as novas demandas possibilitou ao hospital programar para as próximas semanas o início dos processos pré-cirúrgicos para outras especialidades. “A equipe das cirurgias cardíacas já aumentou agenda para fazer mais cirurgias. Já estamos negociando com outro fornecedor os componentes necessários para iniciar procedimentos eletivos da neurocirurgia e aumentar a quantidade de cirurgias urológicas não oncológicas e oncológicas”, anuncia o superintendente Fabiano Ferreira de Paula. A fila de neurocirurgia possui 379 pacientes à espera para procedimentos de média e alta complexidades. É a espera mais longa dentre eletivas: o primeiro laudo é 2012.
O projeto Retomada das Cirurgias Eletivas também vai abranger demandas de especialidades como cirurgia geral, com 203 laudos a partir de 2021; cirurgia pediátrica, 38 laudos iniciados em 2017, e cirurgia vascular, com 47 laudos desde 2020.
O hospital está sendo preparado para realizar 112 cirurgias eletivas/mês referentes a todas as especialidades demandadas pela fila. A meta é desafiadora, mas possível aos implementos que já estão planejados para ampliação da estrutura: preparação de duas salas cirúrgicas exclusivas às eletivas e contratação de mais 12 enfermeiros para o Centro Cirúrgico.

Sem dor e com mais mobilidade, recém-operados ganham vida nova
Rosângela Lemes dos Santos, 54 anos, e Waldemar Prudêncio Júnior, 65 anos, representam o aspecto mais significativo da retomada das cirurgias eletivas: o desejo do corpo diretivo da Santa Casa de Araçatuba de acabar com o sofrimento dos integrantes de uma das filas mais longas e longevas da história mais recente do hospital, devolvendo a qualidade de vida comprometida pela doença e agravada pela angústia da espera.
Ela, costureira de Mirandópolis; ele, aposentado e residente em Araçatuba, são dois dos 70 pacientes que passaram por artroplastia esquerda de quadril em meados de novembro e no dia 1° de dezembro, respectivamente.
Entraram na fila em 2019 e 2020 respectivamente após consultas e exames de imagem indicarem desgaste severo na articulação esquerda do quadril.
“No começo eu ainda conseguia andar, trabalhar, ter atividades normais. Mas, nesse tempo de espera, a situação se agravou, atingiu meus joelhos e minha coluna”, rememora Waldemar ao detalhar o motivo que comprometeu drasticamente a mobilidade e a qualidade de vida.” “Doía demais, eu vivia à base de remédios muito fortes para diminuir a dor.” Por causa da limitação para andar, da falta das atividades físicas que sempre praticou e da ansiedade da espera pela cirurgia, Waldemar engordou nos últimos três anos .“Desanimei, muitas vezes achei que a cirurgia não ia sair mais.”
As dificuldades e agravamentos decorrentes do tempo de espera não foram diferentes para Rosângela que sempre foi muito ativa e passou boa parte da vida “trabalhando pesado na roça e depois em faxinas quando mudei para a cidade, acho que isso desgastou meu quadril”. Ultimamente, no entanto, para sair de casa em situações inadiáveis, ela dependia de transporte por aplicativo. “Só Deus sabe o que passei, eu estava desanimada. “Tudo mudou quando recebeu o telefonema que esperava há pelo menos cinco anos. “Eu nem acreditei quando a moça disse que minha cirurgia tinha saído, cheguei chorar de emoção”.
Waldemar e Rosângela foram operados pelo ortopedista dr. Fabricio Benez, especialista em articulações dos quadris e coordenador do Serviço de Ortopedia e Traumatologia. Ambos tiveram pós-operatório satisfatório e receberam alta três dias após os procedimentos. Rosângela voltou para Mirandópolis com as instruções que a equipe de fisioterapia da Santa Casa de Araçatuba repassa para os pacientes fazerem em casa e com indicação para sessões a serem feitas em sua própria cidade. “Agora, vida nova e agradeço muito a Deus por ter sido chamada e ter sido tão bem tratada pela equipe da cirurgia e todos os enfermeiros desse setor”, disse.
Os pacientes voltarão ao Ambulatório de Ortopedia da Santa Casa de Araçatuba para avaliação e alta do tratamento. “Agora é só alegria, tô indo embora pra casa superbem. Já estou até ficando reto, olha… antes eu só andava curvado. Passando os dias, vai melhorar cada vez mais e é isso que eu quero e preciso”, disse Waldemar momentos antes da alta hospitalar. E completou: “a Santa Casa me ofertou uma qualidade de vida e vai continuar ajudando muita gente que está esperando para fazer cirurgia”.
A alegria dos dois pacientes reflete uma regra que o ortopedista dr. Fabricio Benez tem observado desde o início da retomada das cirurgias eletivas. “É isso que a gente quer, que o paciente saia feliz e transforme isso numa nova vida para ele; o médico tem esse objetivo. O médico está aqui para curar, para ajudar, para apoiar e para resolver esse tipo de problema. Que isso (a retomada) não retroceda, sempre avance”.
O provedor Dr. Éverton Santos explica que a retomada foi implantada sob a racionalização do processo, no sentido de realizar cirurgias eletivas de forma frequente. “Nosso objetivo é que a gente tenha um tempo razoável de permanência dos pacientes na fila, que seja um tempo saudável. Que as pessoas não fiquem mais 10 anos numa fila esperando uma cirurgia. Nosso objetivo é que esse tempo seja radicalmente diminuído e o paciente tenha um atendimento tempestivo dentro de um prazo razoável”, define o provedor.
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