Santa Casa de Araçatuba vai reunir bebês que nasceram pesando gramas e conseguiram boa recuperação
Da redação Diego Alves
João Neto nasceu com 23 semanas de idade gestacional, pesando 590 gramas e com poucas chances de sobreviver. Nos primeiros meses, de um total de quatro meses de internação, enfrentou muitas crises decorrentes da extrema prematuridade. Agora com 2.520 gramas e após ter vencido as fases críticas, João deverá nesta semana, receber alta da UTI Neonatal e passar por um período de observação na Unidade de Cuidados Intermediários.
Após cinco meses de internação na UTI Neonatal, Kemilli Vitória está em casa desde o mês de maio. Primeira filha do casal Ligia da Silva dos Santos Rosa e Everton Isaias da Silva, a bebê está agora com 9 meses, tem desenvolvimento compatível à sua idade e uma rotina bem diferente de quando nasceu com 28 semanas de gestação, pesando 800 gramas. Para aprender a respirar passou quase 4 meses intubada, sofreu paradas cardíacas e uma infecção grave.
Ao deixar o hospital após 150 dias de internação e finalmente ir para sua casa, em Ilha Solteira, a menina pesava três quilos; hoje pesa quase 6 kg. “ Ela é um milagre. Olhando hoje para ela não se fala que passou por tudo que passou”, disse a mãe Ligia da Silva dos Santos Rosa, cujo parto precisou ser antecipado por causa de um quadro de pré-eclâmpsia (uma condição de pressão arterial elevada e excesso de proteína na urina durante a gestação).
João Neto e Kemilli Vitória são os casos mais recentes de pacientes extremamente prematuros tratados em UTI Neonatal da Santa Casa de Araçatuba, mas não são únicos. Nos 20 leitos das UTI Neonatal 2 e UTI Neonatal e Pediátrica do hospital passaram várias centenas de bebês que nasceram nas mesmas condições, precisaram passar por longos períodos de internação e felizmente sobreviveram e levam hoje uma vida normal.
A Santa Casa de Araçatuba é referência em partos de alto risco, condição que eleva as estatísticas de internação de bebês prematuros tratados pelas equipes do Serviço de Neonatologia Intensiva, especialidade diretamente associada aos partos em que mães e bebês correm risco de morte.
Definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como aquele que ocorre antes de 37 semanas completas de gestação, o nascimento prematuro é subdivido nas categorias prematuros extremos ( 28 ou menos), muito prematuros ( 28 à 31 semanas) e moderados ( 32 à 36 semanas).
A condição é frequente e atinge 15 milhões de crianças todos os anos ao redor do mundo. No Brasil, mais de 12% dos nascimentos acontecem antes da gestação completar 37 semanas. Tantos nascimentos prematuros originaram a necessidade da criação em 2009, de uma data para discussão de estratégias para diminuir a taxa de prematuridade: o Dia Internacional da Sensibilização para a Prematuridade, comemorado em 17 de novembro em mais de 50 países.
Para o coordenador do Serviço de Neonatologia Intensiva da Santa Casa de Araçatuba, Anderson Azevedo Dutra, tão importante quanto comemorar os avanços nos cuidados aos prematuros “ o que tem permitido uma sobrevida de prematuros cada vez menores e com idade gestacional muito baixa, próxima a 24 semanas”, é a constatação que a incidência de prematuros têm aumentado na região atendida pelo hospital, “ fruto de uma assistência básica à saúde limitada e pouco capitalizada”.
Em 2021, a média mensal no hospital, que é referência do SUS para 40 cidades da região, é ocupação de 12 leitos intensivos, do total de 20, por bebês prematuros. A instituição mantém estrutura composta por excelência médica e de profissionais multidisciplinares e tecnologia, e tem conseguido índices acima da taxa internacional de sobrevida de bebês que nascem acima de 28 semanas que varia de 75% a 85%. “Hoje, 90% dos bebês que nascem acima de 28 semanas sobrevivem e estão tendo uma ótima recuperação”, informa Dutra. No entanto, ele esclarece que “ há muito o que ser feito. A nível hospitalar precisamos melhorar os recursos tecnológicos e mais leitos”.
Comemoração
Para comemorar o Dia Internacional da Prematuridade, o Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Araçatuba vai reunir em torno de 30 ex-pacientes. São crianças que a exemplo de Kemilli Vitória que passaram longos períodos de internação da UTI Neonatal e venceram as fragilidades da prematuridade.
“Será um momento em comemoração à vitória desses pequenos guerreiros e de confraternização num reencontro entre seus familiares e os profissionais que atuaram no período em que estiveram internados “, explica Francine Américo Borégio D’angelo, enfermeira da UTI Neonatal e organizadora do evento, que será realizado no Grêmio da Santa Casa (Rua Sergipe, 69).
O bebê Otávio Tavares Peres, de 11 meses, é um dos convidados. Ele participará ao lado de seus pais Anne Derrie e Jefferson Rodrigues Peres que voltam ao hospital meses após terem vivenciado as angústias de uma internação logo após o nascimento. O bebê nasceu com 32 semanas de idade gestacional em um parto prematuro realizado em 12 de dezembro do ano passado, em decorrência de descolamento da placenta.
Nasceu com pouco mais de 1.700 kg e precisou ficar internado na Unidade de Cuidados Intermediários durante 41 dias. A internação foi necessária para o bebê ganhar peso. Hoje ele pesa mais de 7 kg, já engatinha e está superbem; nem parece aquele bebezinho de 1,750 kg”, informa a mãe. Anne Derrie atribui a boa recuperação do filho ao tratamento recebido na Santa Casa de Araçatuba, que de acordo com ela “foi nota 10 ou melhor, nota 1000 “
Também como parte das comemorações realizadas durante o mês denominado “Novembro Roxo”, os bebês internados nas UTI’s Neonatal da Santa Casa de Araçatuba participaram de ensaio fotográfico realizado voluntariamente pela fotógrafa Cibele Vieira. Na sessão de fotos, os bebês foram vestidos com camisetas da campanha da prematuridade, confeccionadas especialmente para eles.