Um dos rins do doador de 20 anos de Birigui beneficiou sua própria mãe
Da redação Diego Alves
No final de junho de 2018, a pespontadeira Graziele Furquim do Amaral de Farias, de Birigui, passou 45 dias internada, 15 dos quais em UTI , devido uma crise severa de hipertensão.
Ao final da longa internação, ela ficou diante de um diagnóstico cruel: os rins pararam de funcionar e ela precisaria fazer hemodiálise. Na época, Graziele tinha 32 anos.
Em novembro daquele mesmo ano, perdeu a visão, outra decorrência de seu quadro clínico.
Mãe de dois filhos – Yasmim e Kauan-, na época com 4 e 16 anos respectivamente, Graziele fazia as sessões três vezes por semana no Hospital do Rim da Santa Casa de Araçatuba.
Com as dificuldades da mãe, Kauan assumiu a responsabilidade de ajudá-la em todas as tarefas, como cuidar da casa, das compras e de acompanhá-la três vezes por semana nas sessões de hemodiálise.
“Ele não se conformava em ver o sofrimento da mãe, por isso quis doar um rim para ela ficar livre das maquinas de hemodiálise”, conta a comerciante Nayara Furquim do Amaral, irmã de Graziele.
Porém na época, Kauan era menor de idade. Pela legislação, o doador tem de ter acima de 23 anos. “ Ele dizia que quanto completasse a idade exigida doaria um rim para sua mãe”, relembra a tia.
Outro impedimento para um transplante era um quadro de insuficiência cardíaca descoberto durante os tratamentos rnais.
Decorridos cinco anos da crise de saúde que modificou totalmente a vida de Graziele, uma tragédia devastou a família. Vítima de um acidente de moto no primeiro dia de 2023, Kauan sofreu traumatismo craniano e teve morte encefálica constatada no início da tarde de terça-feira (3/1).
Reunida com a equipe da Santa Casa de Araçatuba para receber informações sobre a morte encefálica , a mãe de Kauan foi informada sobre e a possibilidade de doação de órgãos.
“ Minha irmã certamente nem lembrou da intenção do Kauan em doar um rim para ela. Mas, mesmo devastada, não pensou duas vezes em autorizar a doação pois isso iria salvar muitas vidas. E ela queria um pedacinho dele em cada pessoa que pudesse ser salva”, afirma Nayara.
De acordo com a tia de Kauan, Graziele “ficou prostrada com a morte do Kauan e chegou dizer que não faria mais nada por sua saúde, que queria morrer logo para poder estar com ele”.
A legislação que normatiza os transplantes no país, assegura aos parentes de até quarto grau que estejam na fila de espera, prioridade em relação a órgãos de um familiar que se tornou doador após morte encefálica.
O transplante
Aos 37 anos, devastada pela dor de uma perda irreparável e dividida entre estar presente no velório e sepultamento de Kauan ou ir para o Hospital das Clínicas de Botucatu que já havia confirmado duas etapas de compatibilidade para o transplante, “ e ter para sempre dentro dela um pedacinho do filho, minha irmã aceitou tentar o transplante”, relatou Nayara.
Quando o núcleo renal do hospital, que é referência estadual em transplantes de rins, entrou em contato com Graziele, faltava ainda uma avaliação sobre as condições cardíacas. Caso a insuficiência estivesse fora das condições, o transplante não seria autorizado.
“ Mas em meio a toda a dor, tivemos a boa noticia de que ela estava em condições de fazer a cirurgia”, informou Nayara.
O procedimento foi realizado na manhã de quinta-feira ( 5/1) no Hospital das Clínicas de Botucatu, referência em transplantes renais no interior paulista.
Á equipe Hospital do Rim da Santa Casa de Araçatuba, o HC de Botucatu informou que o transplante foi bem sucedido e sem intercorrências.
Familiares que a visitaram nesta sexta-feira, informaram que Graziele está em boa recuperação e deverá ter alta da UTI nas próximas horas.
A irmã de Graziele e tia de Kauan vivenciou na quinta-feira ao lado de todos os familiares e os muitos amigos, as dores das despedidas do rapaz que deixou além da saudade a certeza de que foi um herói desde o começo da doença de sua mãe e partiu como tal.
“Ele era tudo para minha irmã. Um filho presente, participativo, amigo e dizia que ela e a irmãzinha Yasmim eram suas princesas”, contou Nayara, muito emocionada.
Ela define o sobrinho como um menino que precisou ficar adulto muito depressa para cuidar da mãe, mas o fazia com amor e sem queixas.
O rapaz também tinha muitos sonhos. Ser campeão em uma competição de skate, era um deles. Atleta há 7 anos, ele era apaixonado pelo skate e se firmava a cada dia como skatista e recentemente conquistou o segundo lugar em um campeonato. “ Ele falava para mãe que um dia ia ficar muito famoso”, conta sua tia.
Casar e constituir uma família, também faziam parte de seus projetos de vida. “ O Kauan dizia que um dia iria se casar e ter sua família, mas só faria isso com uma moça que aceitasse sua mãe e a tratasse bem, pois ele jamais a deixaria. Agora não deixará, mesmo”, finalizou Nayara.
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