Após esperar mais de 6 anos, paciente da fila de eletivas será operada amanhã (21), na Santa Casa de Araçatuba
Da redação Diego Alves
Está programada para as 11h desta terça-feira (20/9), na Santa Casa de Araçatuba a cirurgia de Maria Francisca dos Anjos, uma das mais antigas pacientes da fila de espera por cirurgia eletiva que de acordo com estimativa feita pelo hospital em junho deste ano reúne 3 mil pessoas.
Após ter sido convocada pelo hospital e realizar os exames pré-operatórios, Maria Francisca foi internada ontem, exatamente 6 anos 6 meses após o laudo que comprovou a necessidade de realização de uma artoplastia total primária para correção do joelho esquerdo.
Num misto de emoção por finalmente estar entregando os documentos para ser internada e apreensão porque é a primeira vez que fará uma cirurgia, Maria Francisca que é dona de casa e tem 61 anos, contou que “não vejo a hora de ficar livre dessa dor no joelho que me impede de fazer quase tudo”.
O problema começou há quase dez anos quando num acidente doméstico bateu com o joelho em um vaso de plantas. Com o passar do tempo, Maria Francisca foi perdendo a mobilidade e “praticamente ter que se arrastar para conseguir andar”.
Em meados de 2014 ela passou pela primeira consulta no Ambulatório de Especialidades Médicas (AEM) da Santa Casa de Araçatuba. Exames solicitados pelo ortopedista diagnosticaram desgaste nos ossos do joelho possivelmente sequela do acidente sofrido e quadro avançado de artrose. Um caso eletivo, ou seja, não urgente ou de emergência.
Após algumas consultas de retorno, em 4 de fevereiro de 2016, o ortopedista do AEM expediu o laudo cirúrgico, documento que inclui um paciente à espera da realização do procedimento.
A tramitação desse documento demanda algum tempo para se cumprir várias etapas burocráticas entre as secretarias municipais de saúde e Departamento Regional de Saúde de Araçatuba para analises de custeios e de agendamentos. Normalmente quando um paciente é inserido nesta fila há centenas de outros em sua frente e tudo isso acaba retardando em vários meses e até anos a chegada dele a um centro cirúrgico.
No caso de Maria Francisca dos Anjos e aproximadamente outras três mil pessoas com laudos emitidos a partir de 2015 para realização de cirurgias diversas, houve um fator complicador no tempo de espera: a pandemia do coronavírus. Por causa das restrições impostas pelo Ministério da Saúde para enfrentamento do vírus e tratamento de seus vitimados, as cirurgias eletivas permaneceram suspensas por dois anos.
Maria Francisca dos Anjos estava dentre os pacientes que começaram a ser chamados no final de julho para realização de cirurgias de alta complexidade, como as de ortopedia, por exemplo. Por estarem há mais um ano na fila os exames pré-operatórios desses pacientes precisaram ser refeitos e os pacientes aprovados nesses exames passaram a ser agendados.
A paciente chegou à Santa Casa de Araçatuba por volta das 12h. Acompanhada do marido Ismail de Faria. O casal mora no bairro Novo Paraiso e sobrevive com aposentadoria de Ismail e serviços que ele realiza em limpeza de terrenos e jardins. “Mas ele me ajuda muito, estendendo roupa no varal, varrendo o chão e fazendo serviços que não consigo por causa da dor e problema no joelho”, contou Maria Francisca.
Evangélica cristã, ela definiu como “milagre de Deus” estar entrando na Santa Casa de Araçatuba para realizar a cirurgia” que cheguei a pensar que não conseguiria mais fazer”. A espera de 78 meses não foi, segundo ela, apenas do sofrimento causado pelo problema no joelho. “Tive muita angústia, revolta, dor na alma de saber que estava sofrendo tanto e a solução estar tão acima das minhas possibilidades”.
Confiante de que “Jesus está aqui comigo e guiará minha cirurgia”, Maria Francisca diz que vai se resguardar no pós-cirúrgico e depois” quero trabalhar nas minhas coisas, ajudar meu marido a capinar terrenos e ir muito à minha igreja”.
Retomada
Em junho desse ano incentivos financeiros liberados pelo Governo do Estado para os hospitais do SUS realizarem cirurgias, uma verba de custeio para a Santa Casa de Araçatuba melhorar o estoque de medicamentos e materiais cirúrgicos; e a conclusão de uma ala que estava em reforma que liberou 20 leitos que estavam bloqueadas por causa das obras, a direção do hospital pode iniciar as cirurgias eletivas.
A fila que começou a andar lentamente em julho, ganhou um pouco de velocidade em agosto e setembro, deverá entrar em outubro com 200 cirurgias mensais devido a duas salas cirúrgicas que estão sendo equipadas com verbas da Prefeitura de Araçatuba e do UniSalesiano e serão utilizadas exclusivamente para cirurgias eletivas. Os recursos liberados também incluem a contratação de profissionais para atuar nos procedimentos eletivos.
O hospital está atualizando a situação das pessoas que constam da fila de espera desde 2015. Uma equipe telefona para os inscritos. Alguns não têm sido encontrados nos telefones que constam nos cadastros; uns poucos não querem mais realizar o procedimento; e a grande maioria encontrada quer realizar e já está sendo agendada para atualização dos exames pré-operatórios.
Pesquisa realizada com três pacientes inseridas em 2015 e que seriam a que estão mais tempo à espera do procedimento indicou que apenas uma delas está pronta para iniciar os exames. Das demais, uma disse que não fará mais a cirurgia e a outra ainda não foi encontrada no telefone incluído em sua ficha.
Quando tiver concluído a fase de abordagem desses pacientes, a direção da Santa Casa de Araçatuba vai divulgar o número real da fila de espera.
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